Os mestres yogis, os gurus ensinavam parampara (da boca para o ouvido ) o yoga para os seus discípulos. Todo o conhecimento do Yoga era oral, até Patanjali escrever os Yogas Sutras com todo este conhecimento, condensado em 196 aforismos, divididos em 4 capítulos. Os aforismos de Patanjali são frases que sintetizam este rico conhecimento que transforma a prática de um yogi.
No segundo capítulo, ele comenta sobre as oito angas (partes) do Yoga. O primeiro anga é Yamas, que trata da conduta ética que um yogi precisa e deve ter para desenvolver uma boa prática. O segundo anga é Nyamas, que fazem parte da disciplina individual. O terceiro anga é àsanas (posturas ou poses psicofísicas).
O quarto anga é Pranayamas (técnicas respiratórias), o quinto é Pratiahara (introspecção dos sentidos), o sexto é Dharana (concentração), o sétimo é Dhyana (meditação) e o oitavo é último é Samadhi (meditação). Os dois primeiros angas Yamas e Nyamas, que tratam da ética e da disciplina, são conceitos importantíssimos para o praticante de yoga iniciar sua prática, desenvolvendo e aprimorando este conhecimento na vida diária, não só no tapetinho.
São cinco os Yamas, e como digo aos meus alunos, muito parecidos com os 10 mandamentos e transcendem o credo, o país, a cultura, a idade ou época que o ser humano está inserido pois são valores universais. São eles:
Ahimsa – Não violência.
Não ferir um outro ser e não ferir a si mesmo. A violência nasce da fraqueza, da ignorância, da covardia e do medo. Praticar ahimsa conosco e com o próximo nos ensina o valor do amor, da compaixão e da tolerância pois afinal somos todos filhos de Deus. Há uma história indiana dos jainista aqui ensina que o sábio Mahavira era tão pacífico que quando ele passava até os espinhos se dobraram pra não feri-lo.
Satya – Verdade
A mais alta regra de conduta de moralidade. Ghandi disse: “A Verdade é Deus e Deus é a Verdade”. Satya é a verdade em pensamento, palavras e ações, sendo a calúnia, a fofoca e a mentira repugnantes. Quando a pessoa fala a verdade será ouvida com respeito e atenção.
Asteya – Não Roubar
Não apropriar-se dos bens de outra pessoa, sejam suas posses materiais ou suas ideias. O ato de cobiçar e invejar o que é do outro gera o impulso de roubar para satisfazer necessidades mesquinhas. A liberação dos desejos afasta de nós grandes tentações trazendo paz e tranquilidade.
Brahmacharya – Castidade
Não significa que somente os celibatários possam praticar yoga. Através do amor humano, chefiando uma família e tendo responsabilidade pelos entes queridos se conhece o amor divino.
Aparigraha – Desapego.
É outra faceta de Asteya (não roubar). Assim que, não precisa roubar coisas que não te pertencem, não precisa acumular coisas que você não precisa. Nem se deve ficar com alguma coisa sem trabalhar por ela. Pode ser traduzido também como não acumular. Devemos deixar ir de nossas vidas coisas, objetos que até podem ser usados por outros, doando. Deixar ir pessoas que não querem mais ficar em nossa companhia, deixando-as livres para seguirem seu caminho. Devemos confiar na Providência Divina para todas as nossas necessidades serem supridas.
Os cinco Nyamas fazem parte da disciplina individual do praticante de yoga. São eles:
Saucha – Pureza
A limpeza e pureza do corpo são essenciais para o novo bem-estar. O autocuidado e o auto amor com nosso corpo, com nossa mente e nossas emoções. Alimentar nosso corpo com uma alimentação saudável e nutritiva. Os banhos diários limpa e higieniza o nosso corpo por fora e os àsanas (posturas) e os pranayamas (técnicas respiratórias) nos limpam internamente. A prática de àsanas tonifica e fortalece nossos músculos , órgãos e ossos e ajuda a remover as toxinas. Os pranayamas limpa os nossos pulmões, oxigena nosso sangue e purifica os nervos. Limpar nossas mentes e nossas emoções negativas e prejudiciais e substituí-las por pensamentos e emoções positivas.
Santosha – Contentamento
Contentamento é algo a ser cultivado no nosso dia a dia. Se a mente sofre e está descontente não consegue se concentrar naquilo que faz bem. Só o fato de acordarmos após uma noite de sono e termos um dia pela frente cheio de novas possibilidades e aprendizados é motivo para sermos gratos. Um ser humano contente é seguro e tranquilo pois tem confiança em Deus.
Tapas – Austeridade
A austeridade e a disciplina na prática de yoga faz com o yogi alcance seu objetivo.
Tapas contempla a disciplina do corpo, com cuidados para deixá-lo saudável e de mente para obter paz e equilíbrio.
Svadhyaya – Educação
A educação é o que há de melhor na formação de um ser humano. Svadhyaya é a educação no “eu”. Tão importante quanto os estudos acadêmicos o estudo de quem somos e como conduzir nossa vida também é. A pessoa que toma esta consciência do seu ser descobre que toda a criação divina está no universo e que toda a divindade também está dentro dela, pois a energia que a move é a mesma energia que move o universo. Somos o micro e o macro cosmos. O estudo dos livros sagrados tira o ser humano da ignorância, pois através de exemplos e parábolas se extrai ensinamentos que lançam luz sobre seus problemas. A ignorância não tem começo mas tem um fim. O conhecimento tem um começo, mas não há um fim.
Ishvara pranidhana – Fé
É a dedicação de nossas ações a vontade do Senhor. Quem tem fé não se desespera pois sabe que toda a criação pertence a Deus. A confiança em Deus é como o Sol que dissipa toda a escuridão. A Lua está cheia quando está de frente para o Sol. Assim nossa alma está repleta quando experimenta a plenitude da fé e confiança em Deus. Quando rezamos ou oramos “Senhor, não sei o que é bom para mim. Seja feita a Tua Vontade”. Verdadeiramente confiamos e entregamos ao Amor de Deus.
Referências Bibliográficas:
A Luz da Yoga – B.K.S. Iyengar
Editora Cultrix